sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Foge...

Foge do vazio em que me transformei por não saber o que quero nem quem sou... Foge dos meus braços que prendem quem lhes acode e querem abraçar um mundo que ninguém lhes pode dar... Foge dos meus olhos pois já não vêem mais do que o que lhes interessa... Foge dos meus lábios que se vendem por fantasias que nunca vão existir... Foge do meu corpo que já nem sequer é meu... Mas guarda a minha mente pois nela também te guardo a ti!

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Esquecimento

Toma o meu corpo pois não me tens a mim, agarra-me com força já que não me tens a alma, pergunta-te mil vezes o porquê de seres ninguém. Valida-me a vontade, recorda-me o desejo. Sinto! Mãos que percorrem o meu corpo, lábios que me falam á pele... Palavras vãs que se perdem em sorrisos... Sonho! Mata-me a razão de ser, desensina-me a pensar, sopra-me ao ouvido o esquecimento. Suspiros agridoces de um prazer sofrido, vivido intensamente aos poucos. Arranca-me dos braços da angústia de já não saber quem sou.

Tempestade

A hora de partir tinha chegado, já não eram os meus braços ou as minhas palavras que podiam acalmar a tempestade que se instalou. Não sei se me enganei a mim mesma ou outrém. Sei que por mais que me procurem fora de mim não me vão encontrar. Não estou num cabelo de fogo, não sou um gesto forçado que pede atenção. Sou EU, estou onde apenas alguns chegam e onde quase ninguém quer entrar. Atirei-me para a cama, enrolei-me em lençois frescos que cheiravam a branco e pensei que devia dormir...

quinta-feira, 28 de junho de 2007

9 Janeiro 2004

Fumo! Fumo que se dilui no ar, que se mistura com o teu mesmo que estejas do outro lado da sala. Não bebo para esquecer, fumo, e liberto com ele todas as recordações presas, as mágoas, os pensamentos mais profundos. Talvez assim os meus lamentos cheguem a ti, pairando livremente pelo ar saturado de um bar sem interesse. Inspira! Retém por um pouco aquilo que sempre te quis dizer e não pude. Expira! Liberta finalmente o que nem era suposto existir, devolve-o ao sítioonde flutuam todas as escolhas, todas as hipóteses. Fuma... Queima o tempo que perdes com futilidades, olha-o enquanto arde de raiva. Branco que se enfurece em laranja. Esmaga com força no cinzeiro mais um pensamento vazio, mais uma tentativa frustrada. Fuma... Deixa que eu fume... Deixa que eu saiba que mesmo não partilhando nada mais, o teu fumo é igual ao meu e ambos carregam peças soltas de duas vidas que inconscientemente se encontraram um dia.

8 Janeiro 2004

Ainda aí estás? - Gritei bem alto com toda a raiva contida que escondia há dias. -Espero que não... - desta vez ainda mais alto, desejando, contra toda a lógica e razão, ouvir uma resposta. Gritei. Sim, gritei bem alto. Pois não queri aouvir-te nem podia falar-te com a voz meiga com que te adormecia ou deixava de cada vez que partia por breves instantes que pareciam décadas. A primeira lágrima apareceu sem ser convidada refrescando-me o rosto que ardia de raiva. Tremo... de ódio, de medo que não voltes. Não tu, nem o que partiu antes antes de ti, mas todos os outros que partem sem nunca terem chegado. Acendi um cigarro e esperei ouvir o telefone tocar, uma chave na porta, um "já tenho saudades". Entreguei-me à dormência do fumo, das lágrimas, do silêncio e da escuridão que irrompia do canto da sala. Canso-me! Desisto e entrego outra vez o que nunca tive. Deixo a água perfumada do banho levar com ela as recordações que inventei. Visto-me calmamente e saio para uma rua que me espera sempre. Amanhã vou voltar a Ser prometo a mim mesma num sussurro sem firmeza tentando passar despercebido. Amanhã...

6 Janeiro 2004

Tinha os olhos mais tristes que conheci. Chamei-lhe Pedro porque era frio como pedra. Perguntei-me a mim própria várias vezes se sentia, se conhecia a alegria de descalçar os sapatos e entrar devagarinho no mar, de subir uma árvore para trincar um pêssego doce e sumarento, de voltar a ouvir uma música que já nem nos lembramos. Chamei-lhe Pedro. Por ser esse o nome de todas as minhas paixões por mais nomes que tivessem. Não seria o fim do mundo se o perdesse, já fazia parte do meu dia perder Pedros pelo caminho. Pedros que me caiam das mãos mas pareciam estar sempre lá. Sim, porque quando se encontra um Pedro ele pode estar do outro lado do mundo ou ausente há 20 anos mas está sempre presente. Neste momento há alguém que aclara a garganta, interrompe o meu pensamento, levanta a voz e diz: - Mas eram todos Pedros? De nome?
Claro que não o eram de nome. Eram Pedro de personalidade, de carácter e de olhar (triste). E a todos eu queria sentar no meu colo, deitar a meu lado, beijar a testa e jurar que tudo iria ser perfeito a partir daquele momento.
When you look into an abyss, the abyss also looks into you.
Friedrich Nietzsche